Tuesday, March 27, 2007

O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são formas elementares da arte, ou, antes, de produzir o mesmo efeito que ela. Mas amor, sono e drogas tem cada um a sua desilusão. O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular. Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio. Da arte não há despertar, porque nela não dormimos, embora sonhássemos. Na arte não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela.
O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não é nosso, não temos nós que pagá-lo ou que arrepender-nos dele.
Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso - o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema, o universo objectivo.
Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.

Bernardo Soares, O Livro do Desassossego

Tuesday, March 13, 2007

friendship


(...)
Serapião era um velho mendigo que perambulava pelas ruas da cidade. Ao seu lado, o fiel escudeiro, um vira-lata que atendia pelo nome de Malhado. Serapião não pedia dinheiro, aceitava o que lhe davam, roupa, comida...
Um dia pus conversa com ele, começamos por falar do Malhado, e ele contou-me a sua história juntos:
- Nossa amizade começou com um pedaço de pão, ele parecia faminto e eu lhe ofereci um pouco do meu almoço e ele agradeceu abanando a cauda, e daí por diante não me largou mais. Ele me ajuda e eu retribuo essa ajuda sempre que posso.
- Como se ajudam?
- Ele me vigia quando eu estou dormindo, ninguem pode chegar perto que ele late e ataca. Também quando ele está a dormir eu fico de vigia para que outro cachorro não o incomode.
A certa altura perguntei-lhe se ele tinha algum desejo na vida, ele respondeu, simplesmente, que de momento gosava de comer um cachorro quente daqueles que eram vendidos na esquina. Fiquei surpreendido com a resposta, como era possivel desejar tão pouco. Saí e comprei um desses cachorros para o mendigo. Ele arregalou os olhos, deu um sorriso, agradeceu a dádiva e em seguida tirou a salsicha, deu para o Malhado e comeu o pão com os temperos. Não entendi aquele gesto pois imaginava ser a salsicha o melhor pedaço. Não me contive e perguntei intigrado:
- Porquê voce deu para Malhado logo a salsicha?
Com a boca cheia, respondeu:
- Para o melhor amigo o melhor pedaço.
E continuou comendo alegre e satisfeito.
(...)

Eu posso entende-lo perfeitamente, porque tenho amigas como voces, pessoas especiais com as quais partilho sem exitar, e das quais recebo o melhor que me podem dar.
Podem passar dias, semanas, meses, anos, mas há coisas que não mudam. A nossa amizade começou como a do Malhado e do Serapião, não com um bocado de pão, mas com uma grande dose de amor, boa disposição e atenção.

Por aqui as coisas vão optimas..como sempre. A cidade que me encantou continua a encantar-me.
A experiencia no piso está a ser excelente, apesar de sentir muitissimo a falta da resi em algumas coisa, e elas a minha, temo-nos juntado mas claro não é o mesmo mas é bom ver que as relações siguem (cada vez mais) fortes, por outro lado o piso é uma animação. Amanhã vamos ver se compramos uns peixinhos para nos fazerem companhia!!!
A faculdade...bem...essa vai bem, mas é um semestre onde é humanamente impossivel fazer tudo o que me pedem, não é exagero, é impossivel de verdade (mas isto explicar-vos-ei, se quiserem, noutra altura). Na disciplina de Counicación y Problemas Sociales estou a fazer um trabalho sobre a anorexia, é impressionante o que podemos descobrir mesmo quando pensamos que até conhecemos minimamente um tema.
Este fim-de-semana deviamos ir às Asturias, mas a Isabelinha está um pouco mal, e como tal não devemos ir, só se ela melhorar até 6ª...vou fazer muitas figas para isso!! Espero mesmo que melhore, porque gostava muito de ir, e o tempo não pára.
Ah, a minha queima das fitas (ou melhor, a geral, porque a do ISCSP não vou poder ir) é dia 19, quero-vos comigo! Mas disto falamos na Páscoa!
Acho que não tenho assim mais nada para contar, tudo o que possa existir são conversas de cafés!

Quanto a voces...pois nada!
1º - Dona Anocas continuo à espera de ver um post seu neste blog (do qual também faz parte).
2º - Dona Dalaila quero um mail ou algo a contar como foi na 6ª feira.
3º - Dona Rrrta também tenho saudadinhas, no outro dia não estava no pc.
4º - A minha prima não está na foto por acaso, só não deixo uma mensagem porque não vai ler isto, mas por se acaso...o mail do outro dia diz o essencial.

O resto voces já sabem...Adoro-vos. Miss you. Beijão

Thursday, March 08, 2007

Uma chávena de café, um cigarro e os meus sonhos substituem bem o universo e as suas estrelas, o trabalho, o amor, até a beleza e a glória. Não tenho quase necessidade de estímulos. Ópio tenho-o eu na alma.
Que sonhos tenho? Não sei. Forcei-me por chegar a um ponto onde nem saiba já em que penso, com que sonho, o que visiono. Parece-me que sonho cada vez de mais longe, que cada vez mais sonho o vago, o impreciso, o invisionável.
Não faço teorias a respeito da vida. Se ele é boa ou má não sei, não penso. Para meus olhos é dura ou triste, com sonhos deliciosos de permeio. Que me importa o que ela é para os outros?

Bernardo Soares, O Livro do Desassossego

Wednesday, March 07, 2007


Sempre, depois de depois, virá o dia, mas será tarde, como sempre. Tudo dorme e é feliz, menos eu.

Descanso um pouco, sem que ouse que durma. E grandes cabeças de monstros sem ser emergem confusas do fundo de quem sou. (...) Com línguas encarnadas de fora da lógica, com olhos que fitam sem vida a minha vida morta que os não fita.
(...) Felizmente, pela janela fria, de portas desdobradas para trás, um fio triste de luz pálida começa a tirar a sombra do horizonte. Felizmente, o que vai raiar é o dia.
Sossego, quase, do cansaço do desassossego.
Um galo canta, absurdo, em plena cidade. O dia lívido começa no meu vago sono.
Alguma vez dormirei. (...) Minhas pálpebras dormem, mas não eu. Tudo, enfim, é o Destino.

Bernardo Soares

Tuesday, March 06, 2007

Nas paredes escuramente visíveis do meu quarto, se eu abria os olhos do sono falso, boiavam fragmentos de sonhos por fazer, vagas luzes, riscos pretos, coisas de nada que trepavam e desciam. Os móveis, maiores do que de dia, manchavam vagamente o absurdo da treva. A porta era indicada por qualquer coisa nem mais branca, nem mais preta do que a noite, mas diferente. Quanto à janela, eu só a ouvia.
Nova, fluida, incerta, a chuva soava. Os momentos tardavam ao som dela. A solidão da minha alma alargava-se, alastrava, incluía o que eu sentia, o que eu queira, o que eu ia a sonhar. Os objectos vagos, participantes, na sombra, da minha insónia, passavam a ter lugar e dor na minha desolação.

Bernardo Soares, O Livro do Desassossego

Monday, March 05, 2007

Os Sem-História


A maioria dos seres humanos vive no anonimato.

(...) O mesmo anonimato acompanha-os na morte. Fica a recordação para os mais chegado e, mesmo no caso desses, no fim de alguns anos, passada a geração de quem os conheceu directamente, já ninguém os recorda.

José Manuel Sobral, Le Monde Diplomatique

Thursday, March 01, 2007

Jardim demitiu-se por 2%

34 milhões de euros, apenas 2% do Orçamento Regional, é o que a Madeira recebe a menos este ano devido à nova lei.
Se Alberto João Jardim decidisse cumprir o mandato até ao fim teria apenas de cortar 2% no Orçamento por causa da nova Lei das Finanças Regionais. Hugo Velosa, deputado do PSD pela Madeira e economista, reconhece que, de facto, o efeito da lei nestes primeiros anos é "limitado". E acrescenta que, se o problema fosse só esta Lei, não se justificaria a demissão.

Expresso

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