Praga e Karlon são portugueses de origem cabo-verdiana que, através da língua franca do hip-hop, já levam uma dúzia de anos a tecer uma rede de adeptos nas galerias menos visíveis daquele universo sonoro. Uma rede que, graças às boas ligações entre comunidades originárias de Cabo Verde espalhadas pela Europa, permite que os Nigga Poison venham conquistando alguma reputação além-fronteiras ainda antes de sequer passar perto do nosso mainstream.
Resistentes, o seu primeiro álbum a valer, é um reflexo dessa propagação geográfica subliminar mas também o sinal que o estatuto dos Nigga Poison de segredo mantido entre o underground hip-hop está a terminar. Um dos convidados de Resistentes é o MC francês Less du Neuf, e é em França que Praga e Karlon têm adquirido alguma visibilidade.
Neste novo registo, os Nigga Poison sofisticam consideravelmente o seu som, sem perder as premissas duras mas dançáveis, o carácter e o propósito do que fizeram no passado.
O registo de estreia da dupla tomou a forma do EP Podia Ser "Mi", lançado em 2001 por conta própria. As cinco faixas do CD baralhavam calão hip-hop em inglês com o português e o crioulo, o ingrediente especial deste cozinhado. Os instrumentais soavam a loops rudimentares com tendência sombria, enquanto as rimas descreviam um percurso familiar de guerra-miséria-emigração-gueto-mais miséria-exclusão-droga. O que mais impressionava era a fluência das vozes, em especial de Praga, cujo tom anasalado a aproximava do que um computador arcaico imagina ser a cópia fiel de um flow de rap.
Os Nigga Poison eram cantores de intervenção extra-terrestres, e Podia ser "Mi" é tão incontornável para a história do hip-hop luso como Rapresálias Sangue Lágrimas Suor de Chullage, lançado poucos meses antes.
Cinco anos depois há Resistentes. Desta vez com diversos contributos exteriores - dos Terrakota a Xeg e aos DJs SAS e Lusitano. Tem singles naturais como "Fazes Parte Deste Mundo", que pisca o olho ao ragga, e "Nenhum Homi É Ka Perfeito", que mergulha a fundo no reggae. Se alguém disser que os Nigga Poison são do melhor que o nosso hip-hop já fabricou, não ofereçam resistência.
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4 comments:
ooiiii*
desculpa invadir o teu blog mas ando desesperada á procura da letra "fazes parte deste mundo" dos Nigga Poison... se me puderes ajudar agradecia... nao encontro a letra em lugar nenhuma...
bem, se me puderes ajudar manda-me a resposta pra: nex_butterfly@hotmail.com
beijos e abrigado =)
é nestes momentos que me sinto inculta....=| Lol
beso
Só agora descobri os Nigga Poison e ... quero mais...
Também tenho muita curiosidade em decifrar as letras, mas onde as encontro? Se me puderes ajudar: pacpaul@hotmail.com
Obrigada
Acho interessante que temas como este sejam abordados na internet. Quer dizer que esta também serve para mais alguma coisa. Principalmente vindo num blog.
Gosto imenso de ouvir música, principalmente portuguesa ou com referências portuguesas e, ouvindo um pouco de tudo, tenho especial interesse no Hip-Hop. Existe muito bom hip-hop português com estilos muito próprios, e os Nigga Poison são decididamente um grupo de referência.
Uma das coisas que aprecio na boa música portuguesa é que têm um carácter mais universal, juntando públicos dos mais variados nos mais matizados lugares. É um sinal de que a cultura portuguesa continua a deixar marcos além fronteiras, em estrangeiros em portugueses, e nos demais transportadores da língua portuguesa.
Pena que os nossos escolhidos esqueçam todo o património cultural, material ou espiritual, que existe fora do país, e cá dentro, que merecia atenção, em vez de uns carris com comboios mais rápidos, para se tirar clientes aos voos aéreos e construindo mais um aeroporto a pensar que um dia recupera o dinheiro. Talvez depois da crise…
Já agora, os Nigga Poison são bestiais em concerto! Música que fala de realidades e que consegue meter o pessoal a mexer. Mas mesmo que não se mexam é bom vê-los a dominar um palco.
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