A 11 de Fevereiro de 2007 vai realizar-se, pela segunda vez em Portugal, um referendo que perguntará aos eleitores se concordam com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG), se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.
Consciente de qu se trata de um tema fracturante na sociedade portuguesa, e sem põr em causa o respeito integral pelos diferentes posicionamentos e pela sua expressão no quadro democrático - quando nos identificamos e (talvez sobretudo) quando não nos identificamos com eles -, o conselho Editorial do Le Monde Diplomatique - edição portuguesa deiciu tomar posição pelo "Sim" na questão que agora se coloca aos eleitores e interpela a sociedade no seu conjunto.
Optamos por escolher. Por usar a liberdade de secolher para aprofundar a liberdade de escolha. Consideramos que a difícil opção pela Interrupção da gravidez que a mulher faz, sozinha ou acompanhada, não deve ser penalizaa pelo Estado. Que o Estado não deve atribuir-se o direito, materializado em instrumentos públicos, de punir uma decisão que é essencialmente um acto de consciência do foro íntimo, da vida privada, uma decisão que num Estado laico e democrático não pode ser escrutinada na praça pública nem condenada aos tribunais.
Colocamo-nos do lado dos que têm dúvidas, dos que questionam os valores absolutos por se confrontarem constantemente com a complexidade da vida. Não pensamos ter respostas para tudo, mas algumas preocupações parecem-nos centrais. A despenalização da IVG não faz com que passe a existir a liberdade de optar pela interrupção voluntária da gravidez. Faz com que essa librdade possa ser exercida, em segurança e sem a culpabilização que a ilegalidade fomenta, também por mulheres de grupos económica e socialmente mais desfavorecidos. Trata-se, nesse sentido, de defender uma liberdade que tem uma dimensão individual e uma dimensão social, o que se enquadra numa perspectiva de combate das desigualdades sociais.
Clarificando desde logo a nossa posição, dirigimo-nos sem ambiguidades aos leitores. Assumimos que fizemos uma escolha (...).
Paula Rego, Marília Maria Mira, Pedro Penilo e Catarina Patrício (...), assumem um dos papéis possíveis para a arte e, com linguagens diferenciadas, lançam o seu olhar sobre a realidade do aborto clandestino, do sofrimento das mulheres, do julgamento moral, mas também da quebra do silêncio como caminho para atenuar a dor e expulsar a vergonha. E dão testemunho, uma vez mais, de como o artista e a arte, perturbando-nos, desiquietando-nos, podem intervir política e socialmente.
Continuaremos empenhados neste debate. Fazemos votos de que as legítimas opç~es de consciência de uns não possam, no que diz respeito à IVG, continuar a sobrepor-se às legítimas opções de outros.
Conselho Editorial, Le Monde Diplomatique
2 comments:
Muito bem, muito corajosos estes senhores e senhoras. Porque faz todo o sentido. Se a comunicação social influencia os seus consumidores dia-a-dia, porque não fazê-lo abertamente, avisando de antemão a sua posição? E mais coragem ainda é precisa para assumir esta posição em Portugal, hoje em dia, parece-me. Como já te disse, as pessoas acham que ser a favor da IVG significa que a pessoa é uma libertina, uma galdéria, gente má que não preza a vida, e que não quer lutar por ela, etc etc. Não somos. A maioria não, pelo menos. Claro que gente de má fé há em todos os sectores da sociedade, disso nunca nos livramos. Muito bem, Monde Diplomatique.
Espero mais posts. Beijinho
Nada nesta vida é inteiramente bom ou inteiramente mau,seja o que for tem sempre aspectos bons e aspectos maus (ou, pelo menos, passa por momentos bons e por momentos maus). A despenalizaçao da IVG não é excepção, o importante é que as pessoas entendessem duas coisas (porque, na minha opinião, muitas não entendem):
1- Ser a favor do sim não é (obrigatoriamente) ser a favor do aborto, são coisas distintas (que podem ou não coincidir);
2- A importancia que este aborto tem e o papel decisivo que os eleitores têm. Acho que (infelizmente) este referendo não vai levar a lugar nenhum, isto porque as pessoas não se conscencializam da importancia de ir votar porque pensam "eles fazem o que quiserem", mas a verdade é que o resultado do referendo pode ser vinculativo...
Eu gostava de votar. Não posso. Mas uma coisa eu sei, votaria SIM, porque de acordo com a minha consciencia (e apesar de todos os aspectos negativos que o sim pode trazer) é a melhor solução. E eu acho que não seria capaz de fazer um aborto, mas a questão não é essa.Não é mesmo!
Beijoca******************
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