Wednesday, March 07, 2007


Sempre, depois de depois, virá o dia, mas será tarde, como sempre. Tudo dorme e é feliz, menos eu.

Descanso um pouco, sem que ouse que durma. E grandes cabeças de monstros sem ser emergem confusas do fundo de quem sou. (...) Com línguas encarnadas de fora da lógica, com olhos que fitam sem vida a minha vida morta que os não fita.
(...) Felizmente, pela janela fria, de portas desdobradas para trás, um fio triste de luz pálida começa a tirar a sombra do horizonte. Felizmente, o que vai raiar é o dia.
Sossego, quase, do cansaço do desassossego.
Um galo canta, absurdo, em plena cidade. O dia lívido começa no meu vago sono.
Alguma vez dormirei. (...) Minhas pálpebras dormem, mas não eu. Tudo, enfim, é o Destino.

Bernardo Soares

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