Wednesday, June 20, 2007

Metades

Metade de mim sou eu
A outra metade se escondeu, se perdeu
Ou morreu

Amor e ódio acasalaram-se
O resultado desta catálise
É um mito de talvez e quase

Metade de mim sobreviveu
Metade de mim sucumbiu
Metade amou
Metade odiou

Se próton ou se elétron, não sei
E o que hjoe sou
O que me sobrou
Da inocência que se desvirginou
Sopra-me, basta-me, sufoca-me

Depois do todo que se partiu
Em metade achada e metade que não se perdeu
Em parte de novo se completou
E este novo eu já não sou eu

Leonino Sousa Santos, Metades

4 comments:

bela lugosi`s dead (F.JSAL) said...

muito bonito, sem dúvida. Interessante.

R said...

Faz lembrar aquele poema do Mário de Sá Carneiro "Eu não sou eu nem sou outro"

Saramar said...

Gostei muito deste poema angustiado.

linfoma_a-escrota said...

AS FACES

Hoje analisei-te ao espelho pela primeira vez na vida.
Espantado perante tão vaga ideia de mim mesmo;
sempre escondi as marés do medo numa arrogância inconsciente,
agora compreendo os cristais gastos que criei como protecção
(viver sem me importar, afastando-me de todos).

Sou apenas nem um minúsculo suspiro
ensanguentado pelo engano da criação,
ervilha hérculea pervertida, polinizada sob a crosta
fechada a lacre personalizado no envelope interior,
aprendendo a lidar com a própria caricatura
e respirar paz prespectivando o nada aerodinâmico.

Compreendo que aqui e assim não quero ficar
enfrentando sozinho os recantos obscuros da personalidade,
pânico e histeria apoderam-se (gostava de conseguir desistir)
dada a complexidade de amarras desta injusta condição designada humana,
que as disfuncionais Felicidade e Maturidade apodreçam
fugindo por sombras invisíveis, esperando ao virar da esquina
pela revelação que me acorde deste sonho incompleto e
me esfaqueie até à enseada temida Morte...

2002
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