
Invejo a todas as pessoas o não serem eu. Como de todos os impossíveis, esse sempre me pareceu o maior de todos, foi o que mais se constituiu minha ânsia quotidiana, o meu desespero de todas as horas tristes.
Reconheço, não sei se com tristeza, a secura humana do meu coração. (...) Mas às vezes sou diferente, e tenho lágrimas, lágrimas das quentes dos que não têm nem tiveram mãe; e meus olhos que ardem dessas lágrimas mortas ardem dentro do meu coração. Não me lembro da minha mãe. Ela morreu tinha eu um ano. Tudo o que há de disperso e duro na minha sensibilidade vem da ausência desse calor e da saudade inútil dos beijos de que me não lembro. Sou postiço. Acordei sempre contra seios outros, acalentado por desvio.
Ah, é a saudade do outro que eu poderia ter sido que me dispersa e sobressalta! Quem outro seria eu se me tivessem dado carinho do que vem desde o ventre até aos beijos na cara pequena? Talvez que a saudade de não ser filho tenha grande parte na minha indiferença sentimental. Quem, em criança, me apertou contra a cara não me podia apertar contra o coração. Essa estava longe, num jazigo - essa que me pertenceria, se o Destino houvesse querido que me pertencesse. Disseram-me, mais tarde, que minha mãe era bonita, e dizem que, quando mo disseram, eu não disse nada. Era já apto de corpo e alma, desentendido de emoções (...). Meu pai, que vivia longe, matou-se quando eu tinha três anos e nunca o conheci. Não sei ainda por que é que vivia longe. Nunca me importei de o saber. Lembro-me da notícia da sua morte como de uma grande seriedade às primeiras refeições depois de se saber. Olhavam, lembro-me, de vez em quando para mim. E eu olhava de troco, entendendo estupidamente. Depois comia com mais regra, pois talvez, sem eu ver, continuassem a olhar-me. Sou todas essas coisas, embora o não queira, no fundo confuso da minha sensibilidade fatal.
Cláu, ontem na mensagem eu não estava "assim", acho eu. Está tudo bem=)
Desapareceu um velhote aqui na Damaia!
Quatro seres. Uma música de fundo que inunda os olhos dos ouvintes, não por ser lamechas ou ter qualquer tipo de significado em si, mas sim porque o seu significado vai muito mais além. Era a música de fundo que as gargantas dos quatro seres berravam em noites de loucura. Um desejo de que a música não acabe, para que a hora não chegue. Mas a música acaba, o tempo passa. Um abraço que desfaz. Outro abraço que dói. Um último abraço que quase não é, é apenas um toque de braços e beijinho. Um ser que corre. Não sabemos atrás de quê, ou do que foge, nem ele sabe. As lágrimas vão com ele. Três seres que ficam e não o olham. Que não se olham e partem silenciosamente. Três seres e as respectivas lágrimas. O vazio de um elemento.
A vida é como um livro que deve ser folheado página por página, sem se consultar o índice.
Assim será (esta é a música favorita de um dos seres). O mais pequeno, e que nunca chora. Ou quase nunca.