Monday, July 10, 2006

Estava escuro. Sim, de facto, era normal. Era noite e, portanto, estava escuro. Era daquelas noites quentes, que fazem querer que o tempo dure uma eternidade, aquele quente que segura o corpo pela noite dentro, aquele quente agradável.
No entanto, estava mesmo muito escuro.
Ou seria na minha cabeça a escuridão. Não sei.
Falámos. Falámos de tudo. Ao sabor da brisa (quente) e ao ritmo do balançar de baloiço que fazia com que essa brisa se fizesse vento. Saboroso, esse vento a bater-nos no rosto.
O som era sempre o mesmo... aquele chiar do ferro como que a queixar-se de nós. Mas estava tão escuro que, no momento, as dores do ferro não superavam as dores que a escuridão começava a provocar em mim.
Como fui egoísta.
O baloiço ouviu tudo. Teve de ouvir. E a única queixa que fez era tão legítima... não tínhamos propriamente idade para nos balouçarmos nele... mas na altura a escuridão não me deixou pensar na dor dos outros. Diga-se, do baloiço.
Só hoje percebo como fui (fomos) egoístas. Ele ouviu tudo. A tua história. A minha história. A nossa história com todos os pontos em que se relacionavam. De facto, já te conhecia antes de te conhecer. Senti isso, pela primeira vez nessa noite.
O tempo leva tudo, menos as recordações. E eu recordo-te, comigo, desde sempre.

2 comments:

Cláu said...

=|
fogo...tou sem palavras.tá lindo, absorvi cada palavra, adorei.
radiante.
*

Cláu said...

Já "encontrei a noite" =)e, agora, o texto esá ainda mais lindo! ahh e sim, gostei da importancia do baloiço, muito (acho k ontem nao tive oportunidade de te dizer)!
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